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Vincent Bevins é colaborador do jornal britânico 'Financial Times' e correspondente no Brasil do 'Los Angeles Times'. Escrito em inglês, blog aborda principais acontecimentos do Brasil sob o olhar de um estrangeiro.

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A corrupção está no setor privado

Por Vincent Bevins

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Os políticos não são o centro da corrupção. Hoje, ela é protagonizada por grandes empresas que conseguem dominar o Brasil. Acima, veja as consequências da corrupção.

A imagem de corrupção que domina o imaginário do brasileiro é: um político, normalmente um homem acima do peso e de meia-idade, que pega dinheiro dos cofres públicos, enfia em um grande saco e vai ostentar em Miami ou em alguma boate luxuosa e cafona em São Paulo. O político fica rico e a população, pobre.

Mas essa é uma visão extremamente limitada, que só inclui o lado menor do que é, de fato, a corrupção, como aponta esta excelente coluna de Kenneth Maxwell. Ela oculta o importante papel que companhias privadas altamente lucrativas exercem nos esquemas que prejudicam a população brasileira.

[Este texto foi escrito originalmente em inglês em 2013, antes dos mandados de prisão expedidos contra executivos de empreiteiras supostamente envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras. Traduzimos hoje devido a pedidos.]

[To read the original in English, published before executives at major construction companies were jailed in the Petrobras scandal, click here.]

Atualmente, a corrupção é praticada por atores no setor privado, personagens do “mercado livre” que pagam funcionários públicos para evitar fiscalização e impostos ou para poder explorar os consumidores, trabalhadores e público. Essas corporações lucram mais com o jogo do que os políticos – se não, elas não fariam isso.

A recente onda de escândalos – muito maiores que o Mensalão, que dominou a mídia brasileira por uma década – confirma este modelo de corrupção. A máfia do ISS causou prejuízo de cerca de R$ 500 milhões aos cofres paulistanos e, supostamente, envolveu funcionários públicos prestando favores em troca de propina de construtoras e bancos. Já no Trensalão, empresas estrangeiras formaram um cartel a fim de perpetuar o já horrível transporte público de São Paulo. E, se descobrirmos que a Copa do Mundo foi mesmo marcada pela corrupção, ela terá sido das construtoras, que pagaram os políticos, que permitiram que estas lucrassem e pisoteassem nas diretrizes de saúde e segurança, possivelmente levando a mortes, e talvez – só talvez – envergonhando o país ao atrasar a entrega de estádios.

As simples regras de mercado são prova de que o setor privado ganha mais com isto do que os políticos. As companhias estão maximizando seus lucros, e elas não estariam pagando subornos se não houvesse retorno. O Estado é dominado pelo poder econômico, apenas uma ferramenta usada pelas empresas, as verdadeiras vencedoras do jogo.

Apesar de a situação ser um pouco mais complexa do que “políticos malvados de histórias em quadrinhos roubando da população”, é assim que a corrupção afeta o nosso dia a dia. Se você quiser procurar por suas evidências em São Paulo, pode tentar achar as as contas bancárias de Paulo Maluf, sim.

Mas, para ver as provas concretas, basta dar uma volta pelas ruas para notar como é viver em uma cidade cujo espaço público inteiro foi vendido para a construção de prédios residenciais de alto padrão, onde transporte público é ignorado, e você é constantemente convidado a entrar em mais um shopping horroroso.

Isso não acontece porque algum político ficou rico. Acontece porque foi permitido que alguma corporação usufruísse da cidade em troca de grana.

É tão óbvio que grandes empresas dominam este país, que chega a ser risível. Basta checar sua conta de telefone ou seu extrato bancário para sentir o quão prejudicado você foi neste mês. Checou? Agora tente ligar para eles e note a vontade e o esforço dispensados para lhe ajudar. Nestes casos, não há evidências concretas de corrupção, mas essas empresas infringem todos os tipos de lei e saem ilesas.

Em democracias “avançadas”, como a norte-americana, a corrupção do Estado funciona através de canais legais. As corporações doam somas incalculáveis para as campanhas políticas – e sobra à população imaginar se, talvez, essas doações teriam influenciado o governo. Mas, pelo menos, trata-se de um processo relativamente transparente.

No Brasil, há uma consequência ideológica desta visão simplificada da corrupção, que reforça a ideia que algumas autoridades e estudantes de Economia perpetuam desde os anos 1980: o Estado é desprezível, sempre estraga tudo ou rouba da população, e nós precisamos nos livrar dele o mais rápido possível. Mas observar a verdadeira face da corrupção pode levar à conclusão oposta. Já que o governo que a população elege e para o qual paga impostos pode ser facilmente dominado por empresas privadas, é necessário que ele seja forte, confiável e atuante para impedi-las.

Tradução por Marina Consiglio. Siga Vincent no Twitter @Vinncent

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